Fácil de cultivar e de encontrar, relativamente barata, capaz de dar um “barato” legal, amparada por quem defende sua liberação escorado em muletas científicas capengas, a maconha sai destruindo e detonando tanto quanto suas congêneres tidas como mais barra pesada…
(Matéria publicada na revista “droga&Família”, ano 01, nº 3, editada pela ABRAFAM)
O cigarro é prejudicial porque pode, além de matar quem fuma, matar quem não fuma. O álcool é problema de saúde pública em vários países (Ucrânia e Rússia, por exemplo, onde o hábito de se derrubar uma garrafa inteira de vodca, em goles únicos, é uma instituição). Mas, de longe, nenhuma dessas duas drogas causa tanta polêmica e discussão como a maconha. E tudo porque suas ações no organismo podem ser defendidas tanto por quem a estima como por quem a detrata. Quem ousa defender o cigarro com argumentos científicos sobre suas benesses? Pesquisadores ingleses tentaram e foram quase apedrejados. Com o álcool, o máximo que se pode dizer em seu benefício é que pequenas ingestões de vinho podem auxiliar o ritmo cardíaco (o chamado bom coles-terol). Passou disso, as defesas só se escoram nos tamancos emocionais que essas duas drogas proporcionam. Com a maconha é diferente. Suas propriedades terapêuticas são há muito tempo estudadas. E esse é o ringue em que se batem os contendores.
Para começo de conversa, ninguém usa espontaneamente a maconha por causa de suas propriedades terapêuticas. Usa porque gosta, já que ela induz, conforme o estilo de uso, a um estado narcótico que propicia ao usuário a fuga da realidade. Seja porque motivo for. Se ela beneficia alguma coisa no organismo do sujeito, o faz por tabela. Da mesma forma, a pessoa que bebe não o faz porque é bom para o coração. Faz porque gosta e, a depender dos tragos, também para dar uma escapadinha sabe-se lá para onde. A maconha está entre as primeiras drogas ilícitas a serem consumidas, até porque está presente no cotidiano do homem desde priscas eras. Ela aparece no Pen Ts’oo Ching, texto medicinal de origem chinesa, considerado o mais antigo do gênero no mundo (6.000 anos atrás), onde é indicada para asma, cólicas menstruais e inflamações da pele. Daí se pode aferir que a celeuma em torno de suas propriedades – nar-cotizantes e medicamentosas – são antigas.
Uma vez que surgiu nesse texto chinês, tudo indica que fazia parte do herbário do imperador Nung, da China, há quase 5.000 anos. Outro tratado chinês de 2.000 anos indicava seu uso como anestésico em cirurgias. Já na medicina Ayurvédica da Índia, a maconha é recomendada como hipnótico, analgésico e espasmolítico. No Brasil, seus primeiros registros “medi-camentosos” são desse século. “Os que propunham o uso médico da maconha não apresentam nenhuma novidade pois, na primeira edição da Farma-copéia Brasileira, de 1929, a sua monografia incluía, junto com o extrato fluido (solução), o pó e a tintura (solução alcoólica) de cânhamo indiano (cannabis)”, afirma o Dr. José Elias Murad, em seu livro “Maconha: A Toxicidade Silenciosa” (Editora O Lutador, 1996, 250 págs.). Ele estende o assunto afirmando logo a seguir: ” Já na segunda edição editada em 1959, ela foi retirada porque os especialistas da época julgaram-na sem nenhum valor tarapêutico”.
A tolerância com que se trata a comercialização da maconha talvez guarde relação com o modo de administração com que ela chega ao organismo.
Hoje vários estudos foram e estão sendo conduzidos no sentido de verificar sua eficácia no tratamento de câncer, glaucoma, asma e epilepsia entre outros. Aventa-se a hipótese de que a maconha possa ter propriedades anestésicas e antiasmáticas. Pesquisadores debatem em torno de sua eficácia como estimulante de apetite e quadros anoréxicos. Isso quer dizer que os estudos a respeito de sua qualidade como medicamento prosseguem, o que dá munição para aqueles que defendem o uso “tolerável e responsável” da droga. A tolerância com que se trata a comercialização da maconha talvez guarde relação com o modo de administração com que ela chega ao organismo. A polícia, por exemplo, é muito mais rígida com outras drogas – cocaína e crack — do que com essa velha conhecida, quem sabe porque sua forma clássica de utilização resida numa relação muito próxima com o cigarro. Aliás, é comum que o cigarro seja a primeira droga com a qual a maconha é comparada. A maconha é vendida em pequenas quantidades, normalmente suficientes para um ou dois cigarros. Feitas em trouxinhas de papel ou plástico conhecidas por “parangas”, consiste num cigarro de tamanho usual que pode ser consumido por até três usuários, dependendo da quantidade e qualidade da droga (a mistura, no Brasil, é feita com capim, folhas secas e esterco de boi entre outras “substâncias”). A fumaça é aspirada intensamente e a pessoa chega a prender a respiração – algumas vezes apertando o nariz com os dedos – para intensificar as conseqüências.
Entre os utensílios mais utilizados pelos usuários estão os papéis para fechar o cigarro, conhecidos por “seda”, e pequenas piteiras conhecidas como “maricas”, usadas para fumar a droga até o fim do cigarro sem que para isso seja preciso queimar os dedos. Cachimbos também podem ser utilizados para o consumo, mas isso é raro porque pode consumir mais maconha para que sejam obtidos os mesmos efeitos. Derivada de um arbusto da família Moraceae que pode chegar a dois ou três metros de altura chamado Cannabis sativa, também conhecido como cânhamo, a maconha pode ser cultivada em praticamente todos os tipo de solo e clima, razão pela qual é utilizada em culturas tão diferentes como a África do Sul, os EUA, o Brasil e tantos outros. Planta dióica (ou seja, tem espécimes masculinos e femininos), sintetiza várias substâncias (chamadas coletivamente de canabinóides) dentre as quais os três principais são o canabinol, o canabidiol e uma substância conhecida como delta-9-tetrahidrocanabinol (ou simplesmente THC), que provoca alterações psíquicas importantes no usuário. O teor aproximado de canabinóides é de 2%, mas já se conseguiu teores da ordem de 11,8% no México e 27% na Holanda. A Cannabis indica, outra espécie da família, por sua rusticidade é cultivada a temperaturas baixas no Afeganistão e Paquistão. Seu teor de canabinóides é maior: cerca de 6%. Na Bahia, um hectare de maconha dá lucro 45 vezes maior que o de tomate e 200 vezes mais que o de feijão.
Defensores de sua liberalização batem na tecla de que a Cannabis sativa pode fornecer inúmeros outros produtos além do cigarro de maconha. Seu caule e galhos lenhosos prestam-se à fabricação de roupas e sapatos. Certo deputado verde propôs a confecção desses vestuários com a fibra da marijuana. Com baixos teores de THC, a Adidas lançou nos EUA um tênis reciclável feito de fibras da Cannabis. Sugestivamente deu-lhe o nome de Chronic, gíria americana que designa o fumante de maconha. A Sharon’s Finest, companhia de comida natural da Califórnia, lançou o Hemp Rella, queijo à base de sementes de maconha. Cosméticos, detergentes e papéis podem ser gerados a partir da planta. Bem se vêem as múltiplas propriedades da planta que vai muito além da alucinógena e terapêutica. Mas se ficarmos somente na questão da droga veremos que ela se relaciona intimamente com outra questão que também opõe idéias: a questão econômica.
No Brasil, o plantio e a comercialização da maconha é uma atividade rendosa. Não é sem motivo que muitas pessoas abandonam o plantio de grãos. Na região conhecida como o “Polígono da Maconha”, região que vai de Petrolina, em Pernambuco, a Juazeiro, na Bahia, um hectare de maconha dá lucro 45 vezes maior que o de tomate e 200 vezes mais que o de feijão. A importância econômica da maconha para o sertão de Pernambuco, por exemplo, é notável. Quando a polícia destrói plantações, os traficantes fogem e param de dar emprego aos agricultores. Sem dinheiro, esses deixam de movimentar o comércio local e as vendas caem. Mas o plantio de maconha não está restrito ao Nordeste, ainda que esse responda por mais de 90% das plantações no Brasil. Norte, Sul e Sudeste já estão contabilizando bons lucros com seu cultivo, o que leva a polícia a dar batidas sistemáticas nessas regiões. Os traficantes contra-atacam: plantam em pequenas quantidades e as disfarçam em meio a outras culturas.
Se comparado ao que está sendo feito nos EUA, em termos de cultivo da planta, o tipo de manejo que se faz no Brasil é jurássico. Quando o governo Reagan (1980-1988) aumentou a pressão contra os plantadores, esses dispararam um processo de cultivo altamente sofisticado. Em vez de grandes plantações, passaram a abrigar a Cannabis em estufas montadas em apartamentos. Com pesquisa genética, alta tecnologia, manipulação de luminosidade, de nutrientes e dióxido de carbono, os cultivadores colocaram nas ruas dos EUA espécimes com um teor de THC mais alto e que completam a florada em apenas dois meses. Numa área de dois metros quadrados se concentram 100 pés de maconha. Tudo controlado por computadores que zelam também pela segurança dos cultivadores. Com softwares especialmente desenvolvidos eles podem se comunicar, dar alertas sobre a ação da polícia e escapar da prisão. A liberação lenta do THC no organismo faz com que seus efeitos se mantenham mesmo depois que se está sóbrio.
Entre a população estudantil, o uso da maconha, além de provocar todos os efeitos conhecidos, causa a queda no rendimento escolar, quando não o abandono dos estudos. A Abraço – Associação Brasileira Comunitária e de Pais para a Prevenção do Abuso de Drogas, entidade de Belo Horizonte (MG) presidida pelo Dr. Murad, atendeu, entre novembro de 1991 e novembro de 1993, 325 pacientes. Segundo dados da instituição, 68,4% desses eram usuários de maconha e do total geral (325), 39% não estavam engajados em nenhum tipo de atividade escolar. Dados do Cebrid – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, entidade da Universidade Federal Paulista – Escola Paulista de Medicina, colhidos pelo professor Elisaldo Carlini em 10 capitais brasileiras, entre novembro de 1996 e novembro de 1997, indicaram que a maconha é a segunda droga ilícita mais utilizada, perdendo apenas para os solventes (veja “droga&Família” nº 2).
Há como se imaginar o esboroamento da vida do usuário pesado da maconha. Como na grande maioria dos dependentes de outras drogas, o dependente da marijuana desenvolve uma série de artimanhas, subterfúgios, simulações que dificultam sua recuperação. Até porque ele não se considera doente da maconha. A liberação lenta do THC em seu organismo faz com que seus efeitos se mantenham mesmo depois que está sóbrio, para usar um jargão mais próximo do alcoolismo. Nesse sentido, as duas drogas – maconha e álcool – podem diferir radicalmente. “Quando um indivíduo, sob ação do álcool, procede de maneira alterada e, depois, sóbrio, é relembrado disso, ele tende a separar a sua pessoa deste tipo de atitude ou comportamento, com alegações do tipo “eu estava embriagado”, exemplifica o Dr. Murad. Com o usuário crônico de maconha ocorre que, mesmo sóbrio, ele permanece com a mesma personalidade desencadeada pela ação da droga, recusando-se a voltar “ao normal”.
Kevin Mc Eneaney, da Phoenix House de Nova York (*) – uma das maiores instituições de tratamento de usuários crônicos de maconha –, afirma que “mesmo quando fica sem fumar, duas ou três semanas, ao invés de voltar ao normal, o usuário teimosamente fica no estado de “racionalidade” que desenvolveu induzido pela maconha”. O Prof. Sidney Cohen, da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, EUA (*), que fez um dos mais completos estudos sobre o uso da maconha naquele país, afirma que a toxicidade comportamental da maconha, proveniente do uso pesado da droga, mesmo por curtos períodos (entre três e seis meses, por exemplo), induz a sutis ou pronunciadas modificações no estilo de vida e nos objetivos do usuário. Quando consumida durante boa parte de horas em que está acordado, ele se entrega a uma sensível passividade e perda de interesse por atividades, pessoas e objetivos. Sua vida pode se esvair como a fumaça da maconha que exala e que o encanta. Liberar o uso da maconha seria aumentar a maré de mortes por câncer, enfisema e edema pulmonar, bronquite, pneumonia, hipertensão arterial, infarto.
Ao contrário de outras drogas, não há casos comprovados de overdose por uso exclusivo de maconha. Com animais, entretanto, há casos registrados na França (década de 40) e em Viamão, Rio Grande do Sul (1995), quando animais morreram depois de ingerir grande quantidade da erva. Os que se batem por sua liberação afirmam que ela nunca matou ninguém. A relação uso-óbito realmente nunca foi confirmada, mas a participação da maconha como co-autora de morte entre usuários é mais do que comprovada. Já que é comparada ao cigarro, uma vez fumada, há como imaginar que tanto quanto o tabaco provoque, no mínimo, os mesmos malefícios. Liberar o uso da maconha seria aumentar a maré de mortes por câncer, enfisema e edema pulmonar, bronquite, pneumonia, hipertensão arterial, infarto. Como diminui os reflexos e debilita a atenção, acidentes de automóveis são mais comuns entre os usuários de maconha. Um levantamento feito no Canadá pelo Dr. Sterling Smith (*) mostrou que, entre os motoristas envolvidos em acidentes fatais, 16% deles haviam fumado maconha antes do evento. Em defesa da Cannabis, pode-se dizer que seu uso exclusivo não leva seu usuário a cometer atos violentos, como é tão comum com o álcool, o crack e a cocaína. Ao que parece, ela não modifica a personalidade de quem a usa, apenas a potencializa. “A maconha é uma droga idiotizante”, afirma o Dr. Pablo Miguel Roig, psiquiatra do Instituto Greenwood, clínica de recuperação de São Paulo. “A psicose canábica é um quadro psiquiátrico muito grave, que se parece com a esquizofrenia paranóide, provocada pelo efeito narcotizante da maconha”, explica. O que não se sabe é se ela detona uma psicose preexistente ou se provoca esse tipo de psicose. O Dr. Murad afirma em seu livro que “cada vez mais as pesquisas indicam que o uso da maconha é a causa e não a conseqüência desses distúrbios psicológicos”. Só para ilustrar, no século XIX, o poeta Baudelaire escreveu o seguinte sobre a droga em seu livro “Paraíso Artificial”: “O cérebro e o organismo sobre os quais opera o haxixe oferecerão apenas seus fenômenos comuns; aumentados, é verdade, mas sempre fiéis às suas origens”. Nunca matou ninguém comprovadamente e não leva seus usuários a atos violentos. Certo. E quanto ao suicídio? É sabido que usuário de drogas, sejam elas quais forem, estão muito mais propensos a dar cabo da própria vida do que outras pessoas. Se foge da realidade por meio da droga, pode chegar um dia que nem ela esteja mais proporcionando isso. E é aí que a droga tornar-se um bilhete sem volta. O suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens de 15 a 18 anos nos EUA, de acordo com o Dr. Murad. Em seu livro, ele afirma que um relatório americano concluiu que adolescentes daquele país constituem o único grupo etário cuja mortalidade subiu nas duas últimas décadas. “A razão principal disso”, continua, “é a deficiência para dirigir, provocada por álcool e outros drogas, e o suicídio relacionado com o uso de drogas”. O suicídio entre os adolescentes americanos triplicou nas duas últimas décadas, o que coincide com a epidemia de uso de drogas, principalmente a maconha.
Mistura de crack com maconha, o mix que compõe “a craconha” leva solvente, ácido, talco, mármore e outros componentes menos nobres.
Muitos profissionais que lidam com jovens usuários crônicos de maconha diagnosticam, com preocupante constância, crises psicóticas aliadas a estados depressivos com tendências suicidas. Se a maconha não provoca mortes diretamente pode, sem dúvida, provocá-las indiretamente, pelos efeitos do uso prolongado e/ou concomitante com outras drogas. Por isso, à maconha não deve ser debitada a exclusividade de um índice maior de suicídios entre seus usuários. No ano passado, a polícia do Rio de Janeiro estourou uma “boca de fumo” onde encontrou “craconha”. Mistura de crack com maconha, o mix que compõe “o produto” leva solvente, ácido, talco, mármore e outros componentes menos nobres ainda. O uso de maconha com álcool é comum e conhecer os processos usados pelo organismo para metabolizar a droga é suficiente para saber porque o corpo vai à lona e pode não se levantar mais: alguns canabinóides deprimem o centro do vômito que, como se sabe, é uma espécie de defesa do indivíduo alcoolizado para eliminar o álcool do organismo; ora se o vômito não ocorre, por estar deprimido o seu centro pela ação da maconha, é lógico que o risco de morte é muito mais pronunciado.
Entretanto, os gladiadores que defendem e atacam a maconha encontram-se no coliseu maior da discussão quando o tema é a propriedade medicamentosa da Cannabis. Os primeiros dizem que seus efeitos terapêuticos, em algumas situações, depõem a favor de sua liberação e demonstram que sua ação no organismo não é tão deletéria quanto se alardeia. Os segundos afirmam que, muito embora algumas ações benéficas da Cannabis tenham sido identificadas, drogas mais atuais, sintetizadas por laboratórios, são muito mais convenientes, eficazes, não possuem a ação narcotizante da droga e, portanto, desvestem (ou ao menos esmaecem bastante) a aura de “remédio” que os primeiros colocam na maconha. Essa é uma das discussões mais acesas e o fogo foi atiçado depois que a prestigiosa revista britânica New Scientist (www.newscientist.com) revelou que ninguém menos que a OMS – Organização Mundial de Saúde censurou um relatório produzido pelos seus próprios pesquisadores no qual os mesmos afirmam que a maconha faz menos mal que o álcool e o cigarro.
Segundo a revista, o estudo comparativo entre a maconha e outras drogas legais, que foi suprimido do relatório sob pressão da OMS, dizia que a maconha, se consumida na mesma escala do álcool e do cigarro, traria menos prejuízos ao organismo do que essas duas últimas. O relatório também concluía que embora existam provas dos efeitos prejudiciais do álcool sobre o feto, o mesmo não se podia dizer da Cannnabis porque os estudos não são conclusivos. O trabalho esclarece ainda que a maconha não causa bloqueio das vias respiratórias, enfisema pulmonar ou qualquer outro dano às funções pulmonares e vicia menos que o cigarro e o álcool. Alguns profissionais que participaram do estudo defendem a posição da OMS alegando que a pesquisa não é útil do ponto de vista social, uma vez que, no subliminar, pode induzir ao consumo da maconha. Seria uma autêntica “escolha de Sofia”, ou seja, se é para se drogar, se é para se entregar a algum vício, que o usuário danifique o seu organismo e sua mente com a droga menos prejudicial. Absurdo!
“A maconha é uma droga idiotizante; ela está sendo divulgada como uma droga fraca, uma droga que faz menos mal do que o cigarro”.
No caso dos medicamentos antieméticos, muito embora o FDA – Food and Drugs Administration tenha liberado a comercialização de um produto à base de Cannabis para esse tipo de tratamento, as conclusões quanto à sua eficácia são discutíveis. Tanto o Marinol, utilizado nos EUA, quanto o Nabilone, presente no Canadá, são empregados em forma de cápsulas para o controle de crises de náuseas e vômitos em pacientes com câncer submetidos à quimioterapia. Resultados colhidos em algumas pesquisas demonstram que cerca de 30% a 50% dos pacientes realmente apresentam bons resultados, mas tais percentuais são achados principalmente em pessoas mais jovens e, mesmo assim, não foram melhores do que alguns dos antieméticos clássicos conseguiriam também produzir. Tais medicamentos são utilizados ainda na caquexia, uma condição muito presente nos pacientes HIV positivos, caracterizada pela ausência de apetite, com conseqüente surgimento de quadros anêmicos que concorrem para o agravamento da doença. Com o Marinol e o Nabilone, tais pacientes teriam seu apetite restaurado.
O Dr. George Hyman, oncologista da Universidade da Colúmbia, EUA (*), afirma:”Como o THC é solúvel nas gorduras, não pode ser injetado por via endovenosa; administrado por via oral ou fumado, sua biodisponibilidade (que corresponde à quantidade ativa da droga que entra na corrente sangüinea) é de apenas 6% a 20%, o que fica bem abaixo da metoclopramida (Plasil), por exemplo, droga que pode ser administrada por via endovenosa e que dá uma biodisponibilidade de 100% com poucos efeitos colaterais e nenhuma ação mental”. Bem se vê que tudo o que diz respeito às propriedades terapêuticas da maconha ainda são objeto de estudos que devem ser aprofundados. Apesar de acompanhar o homem desde seus primórdios, a maconha obteve o interesse da comunidade científica apenas a partir de 1964, quando o pesquisador Raphael Mechoulan, da Universidade de Tel Aviv, Israel, extraiu e sintetizou o THC. “A maconha e o THC ainda não mostraram ser realmente úteis nas patologias descritas; mesmo quando suas ações são comprovadas, elas são inferiores às de outras drogas encontradas no mercado, que têm a vantagem de não apresentarem efeitos colaterais, principalmente psíquicos”, alerta o Dr. Murad.
De tudo isso o que se pode inferir? Pelo menos uma coisa: maconha é droga. Alegar que ela possui alguma condição medicinal não tira seu cerne maior de droga. Se a sociedade continuar a bater nessa tecla, terá de permitir que a cocaína seja liberada (afinal, Freud tratou e se tratou com cocaína), a morfina, os ansiolíticos e toda um sorte imensa de drogas que possuem um subextrato de amenização de sintomas danosos ao organismo. “Volto a dizer: a maconha é uma droga idiotizante; ela está sendo divulgada como uma droga fraca, uma droga que faz menos mal do que o cigarro, que não tem conseqüência nenhuma e isso, além de ser uma mentira deslavada, é uma irresponsabilidade”, dispara o Dr. Roig. “Quando ouço o Gabeira, o Lobão, a Rita Lee divulgarem essa droga fico revoltado porque eles só alimentam uma população de adolescentes que usam ou vão usar maconha com conseqüências funestas como baixo rendimento escolar, atenção e memória alterados, desmotivação; e tudo isso leva a um desempenho, escolar e de vida, medíocre”, sentencia.
“Tenho visto usuários de drogas de 18 anos ou mais que quando se livram da maconha começam a brincar com miniaturas de carros ou bonecas”.
O Dr. Mitchell Rosenthal, diretor do Phoenix House, de Nova York (*), a maior instituição de tratamento de usuários de drogas dos EUA, enuncia, como que referendando o alerta do Dr. Roig, que “inúmeros adolescentes e jovens não vão amadurecer como deveriam, não terão os ganhos intelectuais que deveriam ter nos seus anos de crescimento, não se tornarão os cidadãos produtivos e capazes de que a sociedade precisa”. E o uso de maconha colabora decisivamente para isso. Para ilustrar, o Dr. Mitchell tira do jaleco uma conclusão extraída de pesquisas americanas que demonstram que “crescem as evidências de que, entre os adolescentes e os jovens, a maconha é uma das maiores causas de problemas psiquiátricos que os EUA vêm enfrentando”. Corroborando a assertiva do médico, o NIDA — National Institute of Drug Abuse (Instituto Nacional de Abuso de Drogas, dos EUA) informa que “a cada ano, aproximadamente, 60 mil pessoas, a maioria jovens brancos que vivem com os pais, procuram tratamento para problemas relacionados ao uso da maconha; esse tratamento, geralmente ambulatorial, dura quatro meses em média, registrando um índice de retorno de cerca de 20%.”
Entorpecidos pela ação da maconha e drogas acessórias, o adolescente poderá fazer emergir uma pessoa com conceitos distorcidos. O cérebro, espremido e afetado por anos de uso das drogas, buscará referenciais dos momentos em que não estava afetado, levando o usuário a comportamentos incompatíveis com sua idade. Ele simplesmente pára de amadurecer e crescer no momento em que começa a se drogar. O Dr. Jason Baron, diretor médico do Hospital “Deer Park”, de Houston, EUA (*), que trata exclusivamente de usuários de drogas na idade de 14 a 25 anos, relata: “Tenho visto usuários de drogas de 18 anos ou mais que quando se livram da maconha começam a brincar com miniaturas de carros ou bonecas, tentando retornar ao tempo que não tiveram ou conheceram; felizmente, com tratamento adequado, pode-se ensinar-lhes certas habilidades que lhes permite recapturar a falta dos anos da infância ou adolescência perdidos”.
O Dr. Mitchell Rosenthal, diretor do Phoenix House, de Nova York (*), a maior instituição de tratamento de usuários de drogas dos EUA, enuncia, como que referendando o alerta do Dr. Roig, que “inúmeros adolescentes e jovens não vão amadurecer como deveriam, não terão os ganhos intelectuais que deveriam ter nos seus anos de crescimento, não se tornarão os cidadãos produtivos e capazes de que a sociedade precisa”. E o uso de maconha colabora decisivamente para isso. Para ilustrar, o Dr. Mitchell tira do jaleco uma conclusão extraída de pesquisas americanas que demonstram que “crescem as evidências de que, entre os adolescentes e os jovens, a maconha é uma das maiores causas de problemas psiquiátricos que os EUA vêm enfrentando”. Corroborando a assertiva do médico, o NIDA — National Institute of Drug Abuse (Instituto Nacional de Abuso de Drogas, dos EUA) informa que “a cada ano, aproximadamente, 60 mil pessoas, a maioria jovens brancos que vivem com os pais, procuram tratamento para problemas relacionados ao uso da maconha; esse tratamento, geralmente ambulatorial, dura quatro meses em média, registrando um índice de retorno de cerca de 20%.”
Entorpecidos pela ação da maconha e drogas acessórias, o adolescente poderá fazer emergir uma pessoa com conceitos distorcidos. O cérebro, espremido e afetado por anos de uso das drogas, buscará referenciais dos momentos em que não estava afetado, levando o usuário a comportamentos incompatíveis com sua idade. Ele simplesmente pára de amadurecer e crescer no momento em que começa a se drogar. O Dr. Jason Baron, diretor médico do Hospital “Deer Park”, de Houston, EUA (*), que trata exclusivamente de usuários de drogas na idade de 14 a 25 anos, relata: “Tenho visto usuários de drogas de 18 anos ou mais que quando se livram da maconha começam a brincar com miniaturas de carros ou bonecas, tentando retornar ao tempo que não tiveram ou conheceram; felizmente, com tratamento adequado, pode-se ensinar-lhes certas habilidades que lhes permite recapturar a falta dos anos da infância ou adolescência perdidos”.
O Dr. Roig postula uma tese mais sombria quando afirma que a sociedade de hoje, por estar saturada, está descuidando das novas gerações. “Quando há saturação, a sociedade começa a machucar as novas gerações”. Ele fala de permissividade. É como se fosse a lei da evolução natural. A falta de controle dá raízes esquálidas e imaturas, mas abundantes, a uma geração que não está muito preocupada em herdar bons valores, não se agredir e nem aos outros. São essas pessoas, sem o menor verniz de cidadão (até porque, no caminho em que se encontram, não sabem o que é cidadania), que moldarão as próximas gerações. “Podemos prever o crescimento de uma população de imaturos, adultos não qualificados, vários deles incapazes de viver sem um suporte social, econômico e clínico; com o tempo, teremos um número inimaginável de cidadãos emocional, social e intelectualmente deficientes”, sinaliza o Dr. Rosenthal. Será que devemos assistir passivamente aos herdeiros desse mundo bebendo, fumando, injetando e inalando a morte em nome de uma individualidade torturada e entortada pelas drogas?